Se é alguém preocupado com o ambiente, pode ser um desafio saber como agir no dia-a-dia em relação ao uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT. A pegada carbónica associada a uma única pergunta de texto a um modelo de inteligência artificial, calculada em gramas de dióxido de carbono (CO2), equivale a cerca de 0,0000001% da pegada de carbono anual média de um norte-americano. Uma ou duas consultas, ou mesmo mil, não farão uma grande diferença ao longo de um ano.
Estas minúsculas pegadas carbónicas começam a acumular-se, contudo, quando multiplicadas pelas cerca de mil milhões de pessoas que bombardeiam os modelos de inteligência artificial com solicitações de texto, fotos e vídeos.
Os centros de dados que hospedam os modelos de inteligência artificial podem consumir mais electricidade do que algumas cidades inteiras. As previsões sobre o rápido crescimento deste sector levaram as empresas de energia a prolongar a vida útil das centrais a carvão e a construir centrais a gás natural. Manter computadores refrigerados consome também muita água: cerca de uma garrafa para cada 100 palavras de texto que o ChatGPT gera.
Isso não significa que tenhamos de evitar completamente esta tecnologia, dizem os cientistas que estudam o consumo energético de inteligência artificial. Mas podemos ser cuidadosos sobre quando (e como) usar os chatbots de IA.
“Use a inteligência artificial quando fizer sentido usá-la. Não a use a para tudo”, sugere Gudrun Socher, professora de ciência da computação na Universidade de Ciências Aplicadas de Munique, na Alemanha. Para tarefas básicas, talvez não precisemos da inteligência artificial — e, quando precisar de usá-la, pode optar por modelos menores e mais eficientes em termos de energia.
Quando não usar a IA?
Para perguntas simples — como encontrar o horário de funcionamento de uma loja ou procurar um facto básico — é melhor usar um motor de busca ou ir directamente a um site confiável do que perguntar a um modelo de inteligência artificial, recomenda Socher.
Uma pesquisa no Google consome cerca de 10 vezes menos energia do que uma consulta no ChatGPT, de acordo com uma análise de 2024 da Goldman Sachs — embora isso possa mudar à medida que o Google torna as respostas de IA uma parte mais importante da pesquisa.
Por enquanto, um utilizador pode evitar os resumos gerados por inteligência artificial do Google mudando para o padrão de pesquisa para web, que é uma das opções ao lado de imagens e notícias. Adicionar “-ai” ao final da expressão que está a pesquisar também parece funcionar. Outros motores de busca, incluindo o DuckDuckGo, oferecem a opção de desactivar os resumos de IA.
Quando usar IA?
Se tiver um problema mais complexo, especialmente algum que envolva resumir, rever ou traduzir texto, vale a pena usar um chatbot de IA, explica Gudrun Socher.
Para algumas tarefas, usar inteligência artificial pode realmente gerar menos CO2 do que quando as fazemos nós mesmos, de acordo com Bill Tomlinson, professor de informática da Universidade da Califórnia em Irvine, nos Estados Unidos.
“A verdadeira questão não é: a IA tem impacto ou não? Sim, claramente tem”, disse Tomlinson. “A questão é: o que faríamos em vez disso? O que estamos a substituir?”
Um modelo de IA pode produzir uma página de texto ou uma imagem em segundos, enquanto digitar ou ilustrar digitalmente a nossa própria versão pode levar uma hora num portátil. Nesse tempo, um computador portátil e um trabalhador humano causarão mais poluição de CO2 do que um prompt de IA, de acordo com um artigo de 2024 que Tomlinson co-escreveu.
Bill Tomlinson reconhece que há muitas outras razões pelas quais podemos optar por não deixar a IA escrever ou ilustrar algo para nós — incluindo preocupações com precisão, qualidade, plágio e assim por diante —, mas argumenta que a inteligência artificial poderia reduzir as emissões se a usássemos para economizar mão-de-obra e tempo de bateria do computador.
Que modelo de IA devo usar?
Nem todos os modelos de IA são iguais: pode escolher entre modelos maiores, que usam mais poder de computação para lidar com questões complicadas, ou modelos pequenos, projectados para dar respostas mais curtas e rápidas usando menos energia.
O ChatGPT, por exemplo, permite que os utilizadores que subscrevem o serviço pago alternem entre o modelo GPT-4.0 padrão, o modelo GPT-4.5 (maior e mais poderoso) e o modelo o4-mini (menor). Gudrun Socher explica que o mini é bom o suficiente para a maioria das situações.
Há, contudo, uma espécie de compromisso entre tamanho, uso de energia e precisão, de acordo com Socher, que testou o desempenho de 14 modelos de linguagem de IA da Meta, Alibaba, DeepSeek e uma startup de Silicon Valley chamada Deep Cogito. Socher e Maximilian Dauner, co-autor do artigo publicado esta quinta-feira com os resultados, não puderam testar modelos populares como o ChatGPT da OpenAI ou o Gemini do Google porque essas empresas não partilham o código publicamente.
Socher e Dauner fizeram aos modelos de IA 500 perguntas de escolha múltipla e 500 perguntas de resposta livre sobre matemática do ensino secundário, história mundial, direito internacional, filosofia e álgebra abstracta. Modelos maiores deram respostas mais precisas, mas usaram várias vezes mais energia do que modelos menores.
Se tiver um pedido para um chatbot de IA que envolva lidar com conceitos complicados ou teóricos — como filosofia ou álgebra abstracta —, vale a pena o custo de energia para usar um modelo maior, nota Gudrun Socher. Mas para tarefas mais simples, como rever uma tarefa de matemática do ensino secundário, um modelo menor pode fazer o trabalho com menos energia.
Independentemente do modelo que utilizar, pode poupar energia pedindo à inteligência artificial para ser concisa quando não precisar de respostas longas. Formular perguntas curtas e directas também é uma boa estratégia. Os modelos consomem mais energia por cada palavra extra que processam.
“As pessoas muitas vezes confundem essas coisas com algum tipo de sensibilidade”, diz Vijay Gadepally, investigador do MIT Lincoln Laboratory, que estuda formas de tornar a IA mais sustentável. “Não é preciso dizer ‘por favor’ e ‘obrigado’. É ok, eles não se importam.”
E quanto às consultas de IA “passivas”?
Usar a inteligência artificial não significa apenas ir a um chatbot e digitar uma pergunta. Também estamos a usar IA toda vez que um algoritmo organiza o feed de redes sociais, recomenda uma música ou filtra as mensagens indesejadas na caixa de correio electrónico.
“Podemos nem perceber, porque muito disso está oculto para nós”, disse Vijay Gadepally.
Se não somos utilizadores avançados do ChatGPT, estes algoritmos nos bastidores provavelmente representam a maior parte da nossa utilização de inteligência artificial — e não há muito que possamos fazer a respeito, além de usar menos a Internet.
Cabe às empresas que estão a integrar a IA em todos os aspectos das nossas vidas digitais encontrar maneiras de o fazer com menos energia e prejuízos ao planeta.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post